30 meses.

Despedidas sempre são um caso a parte: parte boa e parte ruim.

comecar a pensar em todas as ultimas vezes: quando fechara a porta da casa pela ultima vez, o ultimo dia que acordou no horario certo pra nao pegar transito, qual foi a ultima noite de insonia, a ultima cerveja, o ultimo cigarro na varanda e o cinzeiro que voce roubou de algum bar, a ultima vez que fez frio (e todas as outras que foram de muito calor). as ultimas pessoas voce vc vê na esquina, talvez a ultima vez que voce entra no boteco e seu ultimo pedido para o velho (ou pra qualquer membro de sua familia que ainda não se cansou de estar ali, atras do balcão). O mesmo gato malhado da vizinha, a cadela preta que mora na rua e sempre quer alguem por perto, o carro que para atras do seu na garagem e que as vezes te fode, teus ultimos vizinhos e todos os gostos estranhos deles. A ultima festa, mesmo que não tenha convidado ninguem e, por isso, ninguém veio. São tantas as ultimas ...

A rua e seu vai-e-vem, te faz olhar pros dois lados quando precisa sair. Talvez sejam os lados, pode ser que seja por ai que tudo possa acabar. O lado que estou já não mais me pertence há algum tempo e, estar sozinho, me tira as forças e opções: É algo que tão grande que não tenho como enfrentar ...

O carro que passa e me sauda, como sendo o primeiro, mostra que não sou nada disso. Ir embora me faz bem, ter todos a que quero bem mais perto me faz querer ser algo melhor, coisa que aqui não sinto. O lado sozinho esta indo embora e levando toda a merda em que muitas vezes me prontifiquei a afundar por aqui.

Todas as coisas amontadas num canto, já esta tudo meio que vazio. São poucas as que sobraram, somente o que não foi nas outras viagens e teve que ficar ... o que era menos importante ...

2007-2010: Entre garrafas, amores, amigos, decepções, angústias e bitucas de cigarro existem muito mais coisas do que sonha nossa vã filosofia.

-- 26/02/2010;

Encontrei esse texto que deveria ter sido postado logo quando voltei pra casa. A despedida do apartamento, levar as ultimas coisas e bater a ultima foto com tudo vazio foi triste mas o sentimento de estar de novo em casa equilibrava bem na velha balança das opções que não costumo usar .... o pior mesmo foi perceber que "casa", aqui, não foi mais ...

Tive a falsa impressão de que tudo que precisaria estaria por aqui, mas não estava. Achei que iria encontrar tudo novamente, como aquele objeto, carta ou porcaria qualquer que você esquece no fundo de uma gaveta e, quando o encontra, tudo que você um dia sentiu por ele volta da mesma forma. Não volta, nada é assim.

Talvez a coisa que eu mais me arrependa é de ter voltado. Na realidade é um grande dominó de fracassos, a primeira peça que cai leva todas as outras a cairem, uma-a-uma. O grande arrependimento é o de não ter tentado, de ter desistido tão fácil. Não pulei, não consegui soltar-me das amarras que desde cedo aprendi a me segurar com todas as forças ...

Bom, tudo isso é uma grande bobagem ... a partir de agora é um novo recomeço ... agora sim reconheço o que é não ter o chão firme pra pisar mas acho que não tenho medo ...

Espero que não ...

Boa noite, boa vida.